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sexta-feira, 17 de abril de 2015

1 - MENINO CAPETA


Estava há dias na estrada, a próxima cidade parecia nunca chegar. Meu caminhão estava próximo da reserva. Em volta, floresta escura e constante. Eram duas da manhã, noite clara, estrada limpa. O sono veio a pesar, adentrei o caminhão em uma mata fechada. Descansar a sono tranquilo numa rede ás margens de um leito calmo. Brisa suave, noite romântica. Perfeito.  

Em profundo sono, algo cutuca minha orelha, dou um tapa espantando o que achava ser um mosquito. De novo. Sem zumbido. Cutucado novamente, espanto com outro tapa, não acerto. Algo me belisca. Levanto a cabeça, olho em volta. Nada além de árvores melancólicas. Deito e durmo. A rede começa a balançar vagarosamente, talvez seja apenas o vento. A rede para por um instante. Balanço suave... Abro os olhos estranhando a mudança do clima de repente. Está mais gélido. Galhos mais ralos, abertos, finos. Sinto estranheza. Não lembro ter me pendurado aqui.  

POOOMMM! (buzina de caminhão) Pulo da rede assustado. "TCHIBUM". Caio no rio.   

- Merda! Água gelada.  Filho da Puta! Desgraçado!  

Todo ensopado, olho em volta. Silhueta na cabine. Corro, raivoso. “Vou matar o engraçadinho”. O vento fica forte. Silhueta de gorro.  

- Droga! Não está mais aqui.  

Risadinhas em volta.  

-Apareça! Filho da mãe! Arghhh 

Passos nas moitas. Saltos curtos na folhagem.  

- Vou embora. Preciso chegar logo na próxima cidade. Cadê as chaves?! Passaram dos limites. 

Pego minha espingarda. Sinto-a mais leve. Assobios... POW! Atiro. Falha.  

- Cadê a munição?! Flores?! Será o capeta há me atormentar esta noite?  

Fico vermelho de ódio. Assovios, risadinhas de um menino.  

- Cadê o desgraçado?! Deve ser um pesadelo.  
Perto do rio, uma silhueta escura, gorro, íris negras, escleras brancas, fumaça...  

- Mentira! Será o que eu vejo?!   

Num piscar de olhos, a imagem desaparece. Fico atônito, à procura. Amanhece logo. Não dormi nada. Cansado, faço ligação direta. O caminhão da sinal de vida. Dou ré. Pego a estrada.  
- Ninguém vai acreditar.  
Olho no retrovisor. Bigodes de carvão.  
-Filho da p...
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Douglas B.C. 
(04/01/2014) 

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